O Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LabHab) foi contemplado na Chamada CNPq nº 58/2022, destinada à criação de novos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs). A proposta do INCT Produção da Casa e da Cidade foi selecionada como um dos projetos interinstitucionais que receberão financiamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do MCTI, em parceria com as agências CNPq, CAPES e FAPESP.
O INCT Produção da Casa e da Cidade tem por objetivo aprofundar o conhecimento sobre a produção do urbano no Brasil contemporâneo, analisando a complexa e sofisticada interação entre Estado, mercado e organização social em um capitalismo caracterizado pela dominância financeira. Após 35 anos da Constituição Federal, e pouco mais de 20 do Estatuto da Cidade, o projeto resgata, atualiza e problematiza as contribuições do livro “A Produção Capitalista da Casa (e da Cidade) no Brasil Industrial“, organizado por Erminia Maricato e publicado em 1979.
Apesar do ciclo de políticas públicas implementadas desde a redemocratização, as condições precárias de moradia e dos assentamentos urbanos em geral continuam a ser um desafio, agora de forma mais complexa do que as metrópoles brasileiras enfrentaram na época do livro citado. Compreende-se, assim, ser fundamental avaliar os diversos programas e políticas executados desde então, buscando superar soluções que, baseadas em um diagnóstico do Brasil industrial, já não produzem os efeitos desejados no contexto atual de reprimarização da economia, desindustrialização e dominância financeira. Logo, conhecer e analisar as características da urbanização contemporânea, com base em evidências empíricas e de ciência de dados, é um dos principais objetivos do INCT.
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A partir das pesquisas e análises elaboradas desde 1979, data da edição do livro clássico “A Produção Capitalista da Casa (e da cidade) no Brasil Industrial”, organizado por Ermínia Maricato com prefácio de Francisco de Oliveira bem como do diagnóstico de um impasse da política urbana no país, é fundamental articular as análises e avaliações dos diversos programas e políticas executadas desde então buscando superar soluções de política urbana e habitacional que, forjadas a partir de um diagnóstico do Brasil industrial, já não produzem os efeitos desejados em um contexto de reprimarização da economia e desindustrialização e dominância financeira, modificando completamente os resultados de programas e políticas habitacionais e urbanas.
O papel do planejamento centralizado e o milagre brasileiro da década de 70 transformaram definitivamente as cidades brasileiras, aprofundando processos já iniciados de metropolização, com intenso crescimento da população urbana por meio de migração e ampliação das periferias urbanas. Em termos analíticos, o conceito de espoliação urbana cunhado por Lúcio Kowarick já demonstra a importância teórica que o momento teve para a compreensão das profundas mudanças pelas quais passava o território brasileiro tanto o urbano quanto o rural.
O padrão de acumulação que se apresentava ao país na época foi atingido pela alta do preço do petróleo e do choque dos juros americano. No processo político calcado na manutenção do pacto das elites, a abertura programada pelo Presidente Geisel marcará a transição sem rupturas. Tal processo de distensão, no entanto, vai conviver com um aumento crescente das reivindicações populares, seja pela redemocratização do país, seja por políticas públicas de caráter social. No entanto, o crescimento do movimento popular de reivindicação não impediu a transição imaginada pelos donos do poder, mas marcou fortemente a Nova República e a intervenção do Estado nas políticas sociais.
A natureza efetiva dessa transição negociada pode ser observada em retrospecto na Nova República, fazendo hoje muito mais sentido em face de como foram encaminhadas as questões sociais e as políticas e programas formulados para mitigá-las. Em muitos relatórios, planos de governo e grupos de estudo a questão da descentralização administrativa aparecia como verdadeira panaceia para as questões sociais prementes na época. A forte centralização do sistema anterior conseguiu ser sinônimo de um modo de governar anacrônico e incapaz de atender as necessidades do Brasil. Certamente, adotar a questão da descentralização administrativa como cerne dos males trouxe confusão entre os conceitos de participação direta, democratização e descentralização.
É deste momento o movimento da Reforma Urbana tão estudado e que encontra seu impasse nas políticas e programas atuais, segundo a literatura. Ainda é possível focalizar programas e políticas urbanas nos instrumentos urbanísticos e em especial no plano diretor estratégico? O que as pesquisas de estudo de caso, em perspectiva comparada, conduzidas em municípios de diferentes características mostram sobre a implementação desses instrumentos?
A expansão horizontal da RMSP, retratada no livro de 1979, é a marca da espoliação urbana necessária para a urbanização de baixos salários. No entanto, apesar de ser apontada como um processo geral do país, não são todas as capitais que se urbanizam dessa forma nesse momento. Afinal, é justamente a característica de polarização e centralização do milagre econômico que a industrialização de baixos salários pode se desenvolver.
Os municípios do que hoje conhecemos como as novas frentes de expansão agrícola, em um Brasil reprimarizado, ali, no momento das pesquisas que resultaram no livro, estavam perdendo população ou mantinham-se na matriz produtiva de agricultura e pecuária de baixa intensidade.
A gramática analítica dos anos 1970 assentava as reflexões sobre a produção do espaço na centralidade do trabalho e na relação Estado/capital e suas tentativas de criar um ajuste espacial funcional ao processo de acumulação. Decorria do diagnóstico uma agenda social-democrata de mudança do estatuto do trabalho na sociedade e na redemocratização do Estado com aumento da permeabilidade das políticas às reivindicações dos trabalhadores organizados (em sindicatos e movimentos sociais). Assim, se essa gramática foi potente como inaugural de um campo de estudos, é importante compreender o esgotamento do modelo e, mais do que isso, sua insuficiência para a análise dos problemas contemporâneos.
Importante reconhecer a importância da agenda positiva como instrumento de organização e conquistas significativas e incrementais, mas é igualmente importante identificar a insuficiência da política urbana instrumental como política pública na promoção de um espaço urbano reformado e dentro do contexto pós-industrial e de reconfiguração de uma economia de enclave.
Como se dá na contemporaneidade a urbanização nessas novas frentes de expansão agrícola? Quais as conexões com as metrópoles nacionais em um contexto de capitalismo financeirizado no qual o país se insere? Conhecer e analisar as características dessa urbanização com base em evidências empíricas e ciência de dados é um dos principais objetivos do INCT.
Após 35 anos da Constituição Federal, pouco mais de 20 de Estatuto da Cidade, e a configuração de uma economia menos industrial, mais agrária e de serviços, cabe um momento de balanço de pesquisas realizadas, de avaliação de resultados e impactos e sistematização e de elaboração de investigações prospectivas.
O INCT Produção da Casa e da Cidade se desdobra em um conjunto de eixos de investigação e linhas de pesquisa, articulados entre si. Os primeiros três eixos abordam as formas de produção da casa e da cidade: a autoconstrução e a produção doméstica, as iniciativas estatais e a produção imobiliária privada. O quarto eixo procura aprofundar o campo dos estudos urbanos a partir dessa perspectiva. Esses quatro eixos de investigação, por sua vez, se articulam em onze linhas de pesquisa:
COORDENAÇÃO
Maria Lucia Refinetti Rodrigues Martins
FAU-USP
Luciana de Oliveira Royer
FAU-USP
COMITÊ GESTOR
Rosana Denaldi
UFABC
José Júlio Ferreira Lima
UFPA
Jefferson Oliveira Goulart
UNESP
Estevam Vanale Otero
UNESP
APOIO À COORDENAÇÃO
Giusepe Filocomo
FAU-USP
Anna Carolina de Paula Madrid de Marco
FAU-USP
Paula Custódio de Oliveira
LABHAB
Larissa Gabrielle da Silva Noriko Hiratsuka
LABHAB
EIXO 1 – AUTOCONSTRUÇÃO E AÇÕES SOBRE TERRITÓRIOS POPULARES AUTOCONSTRUÍDOS
Linha 1.1 – Autoconstrução, processo, produto e utilidade
Caio Santo Amore (coordenação)
FAU-USP
José Eduardo Baravelli
FAU-USP
Fernanda Mota Lima
FAU-USP
Ligia Santi Lupo
FAU-USP
Linha 1.2 – Ações e assessoria técnica em assentamentos populares autoconstruídos
Karina Oliveira Leitão (coordenação)
FAU-USP
Caio Santo Amore
FAU-USP
Giselle Megumi Martino Tanaka
UFRJ
Paulo Emílio Buarque Ferreira
FAU-USP
Pedro Henrique Vale Carvalho
FAU-USP
Marcela Silviano Brandão
UFMG
Lara Isa Costa Ferreira
FAU-USP
EIXO 2 – PRODUÇÃO ESTATAL DA MORADIA, PLANEJAMENTO URBANO E MEIO AMBIENTE: condicionantes, políticas e programas
Linha 2.1 – Condicionantes da ação estatal, capacidades administrativas e implementação
Luciana de Oliveira Royer (coordenação)
FAU-USP
Anna Carolina de Paula Madrid de Marco
FAU-USP
Giusepe Filocomo
FAU-USP
João Bosco Moura Tonucci Filho
UFMG
Lucas Daniel Ferreira
FAU-USP
Bárbara Caetano Damasceno
FAU-USP
José Júlio Ferreira Lima
UFPA
Victor Martinez Côrrea e Sá
FAU-USP
Linha 2.2 – Moradia popular em áreas centrais de metrópoles brasileiras: condições, programas e políticas
Beatriz Kara José (coordenação)
SENAC
Ana Gabriela Akaishi
–
Helena Menna Barreto
–
Letizia Vitale
SENAC
Rebecca Moura
USJT
Linha 2.3 – Implementação de instrumentos urbanísticos e ambientais
Rosana Denaldi (coordenação)
UFABC
Tales Fontana S. Cunha
FAU-USP
Vicente L. de B. Vianna
FAU-USP
Dânia Brajato
–
Ana Letícia Saquete Gonçalves
FAU-USP
Carlos E. de S. Cruz
FAU-USP
Douglas Tadashi Magami
FAU-USP
Jeanne C. V. F. Sapata
FAU-USP
Rosana Yamaguti
UFABC
Joana da C. M. R. A. Rios
FAU-USP
Maria Lucia Refinetti Rodrigues Martins
FAU-USP
EIXO 3 – PRODUÇÃO IMOBILIÁRIA E DE INFRAESTRUTURAS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Linha 3.1 Fronteiras (i)mobiliárias: finanças, tecnologias digitais e mobilização da natureza na transformação da habitação e das infraestruturas
Beatriz Rufino (coordenação)
FAU-USP
Tadeu Lara Baltar da Rocha
FAU-USP
Maria Sylvia Baptista Serra
IAUUSP
Pedro Jerônimo Vianna Baptista Vaz de Faria
FAU-USP
Isadora Fernandes Borges de Oliveira
FAU-USP
Isabela Rodrigues dos Santos
FAU-USP
Pollyana Larissa Machiavelli
IAUUSP
Lucia Zanin Shimbo
IAUUSP
Luciana Nicolau Ferrara
UFABC
Guilherme Moreira Petrella
UNIFESP
Paulo Cesar Xavier Pereira
FAU-USP
Cristina Wehba
FAU-USP
Tatiane Boisa Garcia
IAUUSP
Kamir Freire Gemal
FAU-USP
Mariana Cristina Adão
IAUUSP
Linha 3.2 Produção imobiliária, e reconfiguração do espaço urbano e sustentabilidade socioambiental em cidades médias paulistas
Jefferson Oliveira Goulart (coordenação)
UNESP
Júlia Catelli de Souza
UNESP
Ana Carolina B. do Val
UNESP
Luciana Volpon Florian
UNESP
Juliana Pete Silva
UNESP
Estevam Vanale Otero
UNESP
Paula de Melo Galafazzi
UNESP
Ana Luiza Favarin
UNESP
Maria Cecilia Batista Feitoza Silva
UNESP
Luma Rocha Dourado
UNESP
Ana Luiza Mói Crosara
UNESP
Ana Júlia Bonifácio
UNESP
Tathiane Pâmella Nunes
UNESP
Linha 3.3 – Produção e reconfiguração do espaço urbano em cidades da Amazônia legal
José Júlio Ferreira Lima (coordenação)
UFPA
Raul da Silva Ventura Neto
UFPA
Karina Oliveira Leitão
FAU-USP
Miguel A. de Á. Carranza
FAU-USP
Thaís Molon Grotti
FAU-USP
Camila de Fátima Simão de Moura Alcântara
UNIFESSPA
Lucas França Rolim
UNIFESSPA
Renata Sampaio Marques de Souza
UNIFESSPA
Linha 3.4 – Recentes inflexões no setor imobiliário na RMSP: Interfaces entre determinantes macroeconômicos, mercado de trabalho, finanças, práticas empresariais e dinâmicas territoriais programas e políticas
Carolina Maria Pozzi de Castro (coordenação)
UFABC
Letícia Moreira Sígolo
PUC-Campinas
Luciana de Oliveira Royer
FAU-USP
EIXO 4 – ESTUDOS URBANOS NA PERIFERIA DO CAPITALISMO
Linha 4.1 – Estudos Urbanos sob a perspectiva historiográfica
Mariana de Azevedo Barretto Fix (coordenação)
FAU-USP
Raul da Silva Ventura Neto
UFPA
Isabella de Oliveira Walter
FAU-USP
Sillas de Castro Ferreira Coelho
UNICAMP
Viviane Luise de Jesus Almeida
FAU-USP
Ana Cristina da Silva Morais
FAU-USP
João Paulo Davi Constantino
UNICAMP
Carina Serra Amancio
FAU-USP
Linha 4.2 – Metrópole na Periferia do Capitalismo
Erminia Maricato (coordenação)
FAU-USP
João Sette Whitaker Ferreira
FAU-USP
Pedro Freire de Oliveira Rossi
FAU-USP
Fernanda Cavalcante Mattos
FAU-USP
Rua do Lago, 876 – CEP 05508-900 – (+55 11) 3091-4647 – labhab@usp.br
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