Seminário “Fronteiras (i)mobiliárias” discute finanças, tecnologia e natureza na produção do espaço

Nos dias 30 de setembro e 1º de outubro, foi realizado o Seminário de Pesquisa “Fronteiras (i)mobiliárias”, primeiro encontro de trabalho da Linha 3.1 – Fronteiras (i)mobiliárias: finanças, tecnologias digitais e mobilização da natureza na transformação da habitação e das infraestruturas, do INCT Produção da Casa e da Cidade.

O evento reuniu pesquisadoras e pesquisadores em diferentes níveis e estágios de formação, com o objetivo de ampliar o compartilhamento das pesquisas em curso e aprofundar o diálogo teórico entre integrantes da linha.

Desenvolvido a partir da Rede de Pesquisa Construção Urbana Crítica, formada pelos professores Paulo Cesar Xavier Pereira, Guilherme Petrella, Lucia Shimbo, Luciana Ferrara e Beatriz Rufino, o encontro reafirma a especificidade de estudar a produção imobiliária e de infraestruturas em suas relações com terra, natureza, trabalho, técnica e política, como base para um pensamento crítico e coletivo sobre as fronteiras (i)mobiliárias contemporâneas.

A rede reforça o compromisso com uma leitura que articula produção, circulação e realização do valor no espaço construído, suas contradições com a reprodução da vida, e a articulação entre construção, espaço urbano e natureza, situando o país na transição de um “Brasil industrial” para um “Brasil imobiliário-financeiro”.

A abertura do seminário foi dedicada ao delineamento de objetivos comuns e à socialização de bibliografias, a partir da problematização das relações entre crise climática, novas formas de propriedade, tecnologias digitais, finanças e produção do espaço. A programação contou com sessões temáticas sobre fronteiras tecnodigitais e fronteiras socioambientais, voltadas à análise da inserção tecnológica e das plataformas digitais na produção do espaço, da mobilização da natureza e das práticas de sustentabilidade, além da mercantilização e privatização das infraestruturas.

A atividade consolidou um espaço de convergência teórica e empírica, permitindo avanços na compreensão dos nexos entre finanças, tecnologias digitais, natureza e produção do espaço. Os debates abordaram as novas formas de propriedade que aceleram a circulação de capitais, destacando o papel do Estado, a financeirização da natureza, o avanço das Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões, e os instrumentos de capitalização associados à sustentabilidade corporativa.

O contrato emergiu como tema articulador, entendido como forma de propriedade e infraestrutura da financeirização, mediando vínculos entre o jurídico, o econômico e o espacial. As plataformas digitais também se destacaram como objetos centrais para compreender os processos de circulação e centralização das rendas. Os trabalhos mostraram como o avanço da financeirização sobre a natureza e a política urbana tem delimitado novas fronteiras imobiliárias socioambientais, com instrumentos como os critérios ESG (Environmental, Social and Governance) e as PPPs atuando como vetores de captura da renda futura e reorganização dos fluxos de capital sob novas racionalidades.

O encontro buscou integrar discussões e consolidar uma leitura comum sobre as fronteiras (i)mobiliárias contemporâneas, definindo caminhos para uma agenda de pesquisa comum voltada à compreensão das formas contemporâneas de propriedade e das racionalidades financeiras, tecnológicas e socioambientais que reorganizam a produção do espaço.

Essa agenda se estruturou em três direções principais:

  1. Aprofundar a reflexão sobre a composição fictícia do capital e seus efeitos sobre a produção e circulação do valor;
  2. Analisar empiricamente os instrumentos e formas contratuais que materializam processos de capitalização;
  3. Mapear formas de propriedade e agentes estudados pela rede.

Entre os encaminhamentos práticos, destacaram-se o planejamento de uma nota de pesquisa no âmbito do INCT Produção da Casa e da Cidade com mapeamento de casos e metodologias comuns sobre formas de propriedade e agentes, além do planejamento editorial de uma coleção vinculada ao Portal de Livros Abertos da USP, que reunirá os resultados e debates produzidos pela rede. Também estão previstos encontros periódicos para atualização das discussões e fortalecimento da articulação entre grupos de pesquisa.

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