As abordagens científicas, políticas e operacionais para a adaptação aos desafios do desenvolvimento sustentável nas cidades ocorrem, em grande parte, pelo prisma tecnológico. Em tempos em que, cada vez mais, a governança promove a participação do cidadão, experiências de planejamento participativo estão se multiplicando, em especial nos territórios urbanos precários, assim como práticas de co-produção urbana que reúnem sociedade civil, universidades, profissionais, muitas vezes apoiados por instituições públicas. Essas iniciativas trazem inovações sociais fundamentais para uma transição rumo à sustentabilidade, especialmente nos contextos mais desfavorecidos. Mais do que as tecnologias de produção da cidade, CoPolis enfatiza a importância das ferramentas de cooperação na adaptação ao desenvolvimento sustentável.
No momento em que as comunidades urbanas nesses territórios dependem cada vez mais da necessidade de debate e serem ouvidas, para ganhar a capacidade de influenciar nas decisões públicas, as práticas colaborativas tornam possível ir além certas clivagens entre a sociedade civil, profissionais e, em certa medida, governos. São vetores de inovação social e democrática que exploram práticas alternativas visando reduzir as desigualdades sócio-espaciais. França e Brasil são países que têm uma longa história de cooperação e ações comunitárias em bairros populares ou precários onde residem as populações mais discriminadas. Este projeto explora o potencial da co-produção – entendendo-se a ação coletiva e interinstitucional, envolvendo a universidade como agente organizador e mediador – para adaptação das intervenções urbanas às questões de sustentabilidade em termos de redução de vulnerabilidades sociais e ambientais, construindo uma governança urbana democrática, de empoderamento de populações precárias e efeitos cognitivos da co-produção de conhecimento.
O projeto compreende a avaliação crítica dessas práticas e as tensões e impasses dela decorrentes, em casos específicos de estudo, no Brasil e na França, entendendo seus impactos sobre a sociedade civil e o terceiro setor e a produção de “planejamento urbano”. Esses aspectos são analisados pelo prisma da justiça social e espacial. O projeto coloca três questões de pesquisa principais:
1) a gênese e as condições de desenvolvimento de colaborações entre a sociedade civil organizada, os intervenientes intermediários e facilitadores;
2) as relações entre contextos político-institucionais e configurações de práticas colaborativas organizacionais;
3) a organização e circulação de conhecimento no âmbito dessas colaborações e o papel desempenhado pelos diferentes tipos de atores intermediários, em especial da universidade no âmbito da pesquisa-ação.
O projeto acontece em parceria com o LabJuta, da UFABC – cuja equipe contribui, junto a equipe do LabHab, no desenvolvimento e acompanhamento das atividades participativas previstas no projeto -, e com o LAVUE. Os campos de pesquisa-ação do CoPolis se encontram localizados nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro (em fase inicial). Serão investigados casos brasileiros em diferentes contextos em situação de precariedade urbana e habitacional. Os campos de estudo em São Paulo foram divididos entre ocupações jovens na periferia e ocupações de edifícios em áreas centrais.
No campo da periferia, as atividades de pesquisa têm sido realizadas na Ocupação Anchieta, na zona sul, acompanhando o processo de auto urbanização e de regularização fundiária do assentamento. Quanto ao campo centro, as ações desenvolvidas visam contribuir para a realização de levantamentos (arquitetônico, estrutural, elétrico, hidráulico e segurança contra incêndio) e a proposição de projetos, orientações e outros documentos técnicos de melhorias para as ocupações Mauá, Caetano Pinto, Nove de Julho e Penaforte Mendes.