Mariana Fix
Pedro Arantes
Artigo publicado no jornal Correio da Cidadania, Ed. 383, 8 a 15 de fevereiro de 2004
A cidade de São Paulo expressa, melhor do que qualquer outra, as contradições do Brasil atual. Uma paisagem cheia de disparates e incongruências, formada por arranhacéus “inteligentes” implantados em avenidas sem esgoto, barracos com antenas parabólicas, malabaristas diante de carros blindados, venda incessante de quinquilharias contrabandeadas, bunkers de consumo e de cultura da elite cercados por mares de miséria, máfias controlando serviços públicos, narcotráfico consumindo os jovens das periferias, igrejas evangélicas pentecostais por todos os cantos, neo-filantropia do terceiro setor, etc etc.
O fato é que não estamos mais diante de uma metrópole subdesenvolvida, mas de um fenômeno urbano que exige a mobilização de novos conceitos para sua compreensão. O sociólogo Francisco de Oliveira – um dos derradeiros representantes da tradição crítica brasileira – comparou recentemente a sociedade brasileira a um ornitorrinco: um bicho incongruente, encalhado na encruzilhada de uma evolução que seguiu adiante. A metáfora zoomórfica sugere uma sociedade que perdeu a capacidade de escolha e por isso tornou-se a encarnação de uma “evolução truncada”. Na sua visão paradoxal – anunciada sem complacência na hora da grande vitória da esquerda – nossa condição subdesenvolvida ainda encerrava uma chance histórica de superação pois, afinal, representara no plano da dominação de classe uma escolha política.
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