São Paulo, o mito da cidade-global: ideologia e mercado na produção da cidade

João Sette Whitaker Ferreira
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Publicado nos Anais do VIº Seminário Internacional de Desarrollo Urbano, Unidad Temática De Desarrollo Urbano de la Red de Mercocuidades, sobre o tema “La ciudad global: existe en el Mercosul? Gestion urbana local em el tiempo mundial”. Buenos Aires, 3 e 4 de julho de 2003. Editado pela Prefeitura de Rio Claro, outubro de 2003.

A imagem da “cidade-global” vem sendo reforçada nos meios acadêmicos, governamentais, na mídia e no mercado imobiliário como uma nova configuração urbana supostamente capaz de dar às cidades as condições necessárias à sua inserção competitiva no “novo mundo globalizado”.

No caso de São Paulo, assim como na maioria das grandes metrópoles da periferia do capitalismo, essa condição parece se confirmar pelo surgimento, a partir de meados da década de 80, de novos bairros “de negócios”, impressionantes concentrações de edifícios que a nomenclatura “globalizada” convencionou chamar de “inteligentes”, justamente pela sua tecnologia de conexão com as mais avançadas técnicas da comunicação global. São nossa versão tupiniquim dos famosos business districts norteamericanos, que trazem ao meio urbanístico a mesma simbologia que o telefone celular carrega junto à classe média: uma prova de que, também quando se trata da “griffe” das cidades, somos capazes de aceder ao mundo dos fetiches globalizados.

Em São Paulo também temos um World Trade Center, e outros tantos centros empresariais com nomes ingleses sofisticados, e só isso parece ser suficiente como prova de que afinal podemos sim ter a nossa cidade-global, sem que haja qualquer preocupação em verificar quais são as dinâmicas e as disputas de poder que regem, de fato, sua produção. A condição de “cidade-global” é assimilada pela ótica da demanda e não pela ótica da produção. Em outras palavras, o que legitima a condição de “cidadeglobal” é tão somente a existência ou não de um mercado – de uma demanda, portanto – para edifícios inteligentes e para os “business districts”.

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